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sábado, 6 de novembro de 2010

SABE O QUE QUE É, DOUTOR?



SEGREGAÇÃO DO CAPRICORNIANO
Relato de caso

G., 38 anos, cearense do Crato, divorciado, médico, residente nesta cidade (Rio de Janeiro). Trajes em alinho, denotando cuidados com a higiene e aparência, porém, transpirava pela fronte e pelas axilas; leve ansiedade e tensão, apesar de bem humorado. Fala normalmente cadenciada, com breves momentos de excitação nas palavras.

- Sabe o que é, doutor? De repente, de uns tempos para cá, a maioria das pessoas que convivem comigo, meus amigos, colegas de trabalho e até as pessoas que conheço em alguns eventos, congressos, reuniões, todas, doutor, até meus familiares em Fortaleza e no Crato, começaram a falar de astrologia com muita frequência. Não que isso seja problema, sempre falei disso, eu sei o meu signo, tanto no zodíaco quanto no chinês: Capricórnio e Rato, respectivamente; essas curiosidades, sabe como é? Mas veja bem, o assunto de astrologia que chegava no atualmente, não era levado na ingenuidade, na simplicidade; não como uma diversão, nem mesmo como uma coisa séria, mas respeitosa. As pessoas começaram a levar a sério o que pregava esse signo, todos os signos, diziam, previam, sei lá! Elas, essas pessoas antes minhas amigas, já tinham a consciência de todo meu comportamento, de meu caráter, quem sabe até de minha vida, doutor, assim que falava que era de capricórnio. Doutor, o senhor carece de me perdoar, mas esse tema nunca me deixou tão avexado quanto nos últimos dias.

- Como assim? Dê-me algum exemplo.

- Pois não, é aí que ia chegar. Depois do carnaval, uma paciente me perguntou e eu, embora tenha estranhado a pergunta, lhe respondi, “Capricórnio”. Ela se afastou num sobressalto jamais visto por mim em todos esses anos de dedicação à dermatologia. Disse não acreditar que eu, sendo eu como sou, na visão dela fosse capaz de ser capricorniano. Teve um outro caso semelhante a esse no consultório, mas dessa vez com um jovem, acho que com 28 anos, que se disse decepcionado comigo. Aí, eu lhe perguntei: por quê, cabra? Claro que não foram com essas palavras, e ele me disse que ser de elemento terra, e regente saturno, eu era um soberbo, arrogante. Mas até ali, não liguei tanto, pois logo lhe indiquei um colega de especialidade igual a do senhor, doutor, pois antes não conhecia seu respaldo e sua competência.

- Obrigado, mas continue.

- Claro, doutor. Agora vem a parte interessante. O tempo passou e comecei a ver só essas coisas de astrologia, conforme já lhe disse. Com essas duas ocasiões, passei a me informar mais sobre os signos, coisa que jamais fizera. Li muita coisa sobre o zodíaco e o meu signo, tudo que ele representa, proporciona, ajuda ou atrapalha, e a sua conexão ou repulsa com que outro signo que ele se dá bem ou se dá mal e só me fez confirmar aquilo que sabia: que poucos são astrólogos decentes, e que metade das coisas que dizem que sou são coincidentes e as outras nem passo perto de ser. Tudo isso bem embasado em todos meus simbolismos, não levei nada ao pé da letra, como fizeram meus então novos inimigos. Mas a coisa começou a ficar incômoda quando em um evento da sociedade, evento nacional, as pessoas me evitavam após saberem de minha, digamos, predestinação. Outro dia, marquei um encontro com uma mulher linda, que conhecia da enfermagem, para tomar um chopinho, ali no Catete; e a conversa ia numa toada maravilhosa, a mulher estava caidinha por mim, acreditava eu. Veio esse assunto de novo e falei à senhorita: você tem certeza que quer entrar nessa prosa? Por quê, algum problema? Vai me dizer que você é ariano? Sou não, não totalmente, sou descendente de negros também, além de índios. Aí ela disse, doutor, que não era desse assunto preconceituoso de que falava, essa coisa de Hitler, era sobre astrologia, todo mundo se liga um pouco no zodíaco, em astrologia, palavras dela. Ela quis dizer arietino, de Áries, como eu já sabia. Falei que não, ela relaxou, aspirou forte, aí falei que era de capricórnio, e ela voltou a se retesar, fechou o semblante, ficou até feia, coitada. Tá rindo, doutor? é sério que digo, ficou feia e bem mais velha.

- E depois...

- Depois, você dificilmente vai acreditar. Ela simulou chamada no celular, foi ao banheiro, ficou lá um tempo, acabei meu chope confabulando de que quando ela voltasse era para pedir a conta. Ela veio do banheiro se ajeitando, pondo a bolsa à tiracolo, esvoaçando o cabelo, era a dica para eu pedir a conta, e assim o fiz, doutor. Ela se sentou e disse, bom, olha ocorreu um imprevisto, me desculpe, vamos pedir a conta? Eu falei, já pedi, mas pode deixar que eu pago. Ela tremeu e me olhou com uns olhos que não quero ver de novo em minha vida. Falou ela: eu sabia...

- Sabia de quê?

- Vai ouvindo, doutor. Ela disse que sabia que eu era assim, pessimista, fatalista... frívolo. Mas nem minhas qualidades, que todos os signos têm, ela falou. Talvez ela falasse de minha liderança, minha confiabilidade, pé-no-chão...

- Humm...

- Sabe, doutor, acho que a partir de agora vou falar que sou peixes, sou pisciano. Vamos ver no que vai dar! Às vezes até acho que é coisa de religião, doutor. Sabe, você sendo peixe, virgem, essas coisas mais puras, posso ter mais aceitação. Mas bode, mas veja, bode, doutor? não pode ter aceitação mesmo. É um símbolo do capeta, de Baco! Cabra d’água. É ou não é esquisito, doutor?

- Absolutamente normal, mas, seu tempo acabou e ainda temos muito que conversar. Fique tranquilo. E continue dizendo seu signo. Astrologia não é um grande problema.

Petrópolis, 6 de novembro de 2010.

13 comentários:

  1. kkkkkkkk
    menino, que caso foi esse????
    Ainda bem que sou geminiana com ascendente em libra! hehehehe
    bom final de semana pra ti!

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  2. Esse negocio de ser nordestino, digo, de ser bode não é fácil, viu! O coitado tem que nascer de novo pra ver se ele vem puro, ariano, virgiano ou paulistano, vai saber...
    ;)

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  3. Engradaço demais! Dá pra figurar a historia no pensamento mais capricorniano de todos.
    Valeu Quints!!!!

    João Lenjob.

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  4. deve ser difícil sofrer preconceito pelo zodíaco. eu porexemplo enquanto na posição de pisciano, as pessoas me acham por demais sensível ou volúvel, mas nem sempre isto é visto negativamente, agora capricórnio... capricórnio não rola

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  5. Ahhh, eu diria a ele para procurar o Pessoa, é aquele dos heterônimos. O cara além de poeta [e dos bons!], estudou a astrologia como ninguém. Calculou, minunciosamente, o mapa astral de cada um dos seus heterônimos, só para não errar na coerência dos versos livres que cada um iria carregar nas costas.

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  6. Bem, eu como nordestina e geminiana sinto um enorme preconceito. Um ser bruto, duas caras, falante, sempre com a peixeira na cintura. Ouço constantemente palavras maldosas dos outros signos, principalmente o peixe e o caranguejo, sempre preocupados com a tragédia humana. O carneiro muitas vezes não compreende as minhas facetas e o centauro tenta me colocar no cabresto, mas nunca tem sucesso. Mas, a vida vai seguindo seu rumo, os planetas vão trocando de casas e a gente continua dando uma "gaitada" gostosa com o horóscopo do jornal.
    PS: Peste, praticamente um post para o blog. :P

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  7. Era um chifrudo igual o da foto.rsrs

    Se bem que sou taurina, e o meu tem chifres também, céus!!!

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  8. Barbaridade, muito bom, Thiago. Preconceito zodiacal é demais. Realmente há quem escolha parceiros, crie antipatias e faça maledicência por conta do signo. Ah sim, sou capricorniano e dragão, mas não entendo nadicas disso.
    Abraços

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  9. Eu, como neto de astrólogo que não domina completamente as artes zodiacais, digo que G., 38 anos, cearense do Crato, divorciado, médico, residente nesta, digo, aí no RJ, não atentou para um detalhe importante: o signo ascendente.

    Ora, se Capricórnio causava-lhe problemas, que dissesse o ascendente. E explicasse para a moçoila, por exemplo, dos potenciais do signo o qual despontava no horizonte leste na hora de seu nascimento.

    Ah, G., perdeste grandes oportunidades! Peça um mapa astral ( não pro João Bidu!) e aprenda a sair destas situações constrangedoras...diga que Cândido Portinari era capricorniano do seu decanato, mas não cite que Mao Tsé-Tang Uva também é deste signo.

    Vai que esteja diante daqueles que usam Cuba para "encerrar um debate" rs

    Abs,G.

    E abraço, nobre Quintella!

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  10. Gostei muito deste conto. Apesar de ser capricorniano, nunca passei por situações parecidas...hahaha!!!
    Gostei muito do seu blog e já vi quem indicou o meu para você...hehehe!!!
    Abrax. Inté.

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