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...de repente, o que está aqui lhe apetece.

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sábado, 2 de abril de 2011

SABE O QUE É, DOUTOR? II


ESQUIZOFRENIA LITERÁRIA

- Mas para ser verdadeiro quanto ao título disto que prestes contarei, digo-lhe, moço, que nem sei se é dessa tal de esquizofrenia que aclaro ao senhor, senhor sabe? Sabe - é coisa esquisita, esquizofrênica. Senhor, que é doutor, avalia, não avalia? Há-de se lembrar tão-bem quanto eu mesmo me alembro que isso começou com Dom Quixote, passou pelo coitado de Raskolnikov, até o dia que lhe cheguei aqui falando castelhano rioplatense, sem nunca jamais não tido lido uma linha sequer da língua de Cervantes e muito menos do jeito de escrever de Cortázar.

Sei que atravessaram tempos que cá não dava minha fuça à vista, mas não se recorda nem um pocadinho de meus problemas? Concordo... é praxe tratar de muitos dom-quixotes, lampiões, napoleões e napoleãs. Já teve alguma Emma Bovary aqui? Ah, desculpe, sei que sou eu que tenho que falar, não o senhor a me responder vãnilidades, sei muito bem eu! Viver é entrar em um moinho de margem do Guadalquivir ou de outra margem do São Francisco e ser cuspido para a bacia do Prata, esperando nau para Europa... na terceira margem - e Sertão, que é todo aqui e ali?

Pode fumar aqui, doutor? Melhor não? - ah pode? Então, se-me-dê licença... puuff, obrigado. Que o lhe digo que consegui sonhar que ouvia aulas e leituras de Guimarães Rosa; saltava, depois, pelas ruas a falar com todos que queriam ou não queriam me ouvir que ouvia Joãozito ler Grande Sertão: Veredas, de um pequeno palanque, acima de e para um grupo. Aquilo era coisa mais normal do mundo, que, ao cabo da palestra – que não era a primeira e nem a última porque me apresentaria no dia seguinte para seguir o seminário – despedi-me de Guimarães Rosa conforme sempre fizera em não sei que vida senão de minha idilice onírica, senhor doutor, que sabe, deve saber tal qual aquele do charuto ali, que está em sua estante. Acordei lamentuirioso, lassidão decepcionativa.

E no café, antes de tomar o dia de trabalho, imagine cara de Ana ao saber que comecei a falar desta decepção que lhe narro narrrativamente, até meu cachorro estranhou, sem nem em vir para mim quando lhe acoei o nome. Joguei um pãozinho e o Alcântara – meu cão – nem chegou perto, parecia ter panefobia. Pãozinho, pãezinhães, lançam as opiniães.

Sorte que me lancei sem alvorecer um inseto, tal o tcheco de escrita alemã. Não é coisa do Souza, do que-não-se-ri, do Some-aparece, do Mattos, do Quintella, do Thiago? Não é mesmo, é? E não deve haver de ser. Que olhar é esse doutor?, assim perco fiança de entender o que me passa se, o que me passou por causa destes que me meto a ler e entrunhar no nem-sei-quê que eles querem nos dizer. São obras que me marcam e marcam minha lingüística, insignificando os significados mais significantes. Coisa inútil,sei. Senhor sabe bem. Doutor, doutor.

Sei que o tempo acaba de começar a acabar, mas é que tenho aula de inglês, aula a lecionar, e meus alunos receberão um texto de Ernest Hemingway... e se gostam disso, ô, considere que gostam muito! Falei demais, falando em Hemingway, gosto de ouvir. - Somos todos aprendizes de uma arte que nunca ninguém se torna mestre, Ponha aspas no que falei porque é de Ernest, velho de mar. ... Joãozito, velho de açude e rio, Rio de Novembro triste e imortal, também me disse que, - ponha outras aspas – Professor é aquele que, de repente, aprende.

Doutor, doutor, fale alguma coisa... lhe devo quanto: senhor sabe?

Niterói, 31 de março de 2011.

22 comentários:

  1. Eu quase não sei de nada, mais desconfio de muita coisa. (riobaldo G. sertões veredas).

    Boa prosa essa sua!!!

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  2. Concordo com o anônimo...E realmente é uma esquizofrenia literária, rsrs. Fiquei com pena do pobre do doutor, deve ter ficado estupefato! BJOS!

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  3. oi, thiago. andei tirando uma folguinha das postagens pq tive ate uns problemas de saúde, ando meio sem inspiração, mas ainda vou ao blog todos os dias para ver os comentários e agradecer as visitas. é claro q não ia esquecer de passar aqui ;) bom final de semana pra ti. bjão.

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  4. "...insignificando os significados mais significantes ..." - MAGISTRAL, mestre Thiago e concordo com cim Carla Stofa sobre o final - bj - \neia

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  5. Que beleza, vasta cultura, verborrágico, esquizofrênico, febril e literato amigo.

    O doutor voltou a estudar depois dessa.

    Abraços.

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  6. E este Joãozito hein?? Sugestivo machadiano leitor mineiro de Rosa.
    Muito bom!! Abraços!!

    João Lenjob.

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  7. Thiago Rosa, vastidões humilhantes. Um abraço.

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  8. Realmente uma esquizofrenia literária!!Adorei o final...
    Abraços,

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  9. Ora, ora, ora, Thiago !!!! Trejeitar o que, se perdi o ar de tanto tentar entender o que dizias !?

    Abraço

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  10. Olá Thiago.
    Valeu pelo comentário lá no blog.
    Já fiz a correção na data do post.
    Foi, realmente, desatenção.

    Abraço
    Marcel

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  11. "Num sei, só sei qeu foi assim". Isso poderia ser o próprio paciente contando depois como foi sua sessão para tratar dessa esquizofrenia da mais alta relevãncia. rsrs. Se os surtos que povoam as mentes por ai fossem dessa natureza, que maravilha que seriam nossos neuróticos, psicóticos, esquisitos .rsrs. Bom demais, Thiago! Abraços. paz e bem.

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  12. F 20.6
    Haja esquezofrenia!
    *risos

    Muito bom, gostei muito!
    beejo!

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  13. Nossa, estou encantada pelos seus escritos... Li vários posts, que maravilha encontrar alguém que escreve tão bem... Fui ficando tão envolvida pela história, ainda mais citando Guimarães Rosa, especialmente porque sou sertaneja e talvez sofra dessa tal esquizofrenia literária, não sei, só sei que tocou, bateu forte no coração...
    Muito bom...
    Parabéns!!!

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  14. Oi Thiago...
    Fiquei feliz pela sua visita. Realmente gostei muito das coisas que vc escreve... Já andei dando boas olhadas por aqui...
    Então, descobri a poeta escafandrista através do seu blog, adoro a palavra e fiquei curiosa... Visitei o blog dela, ela retribui a visita e quando vimos estávamos escrevendo poemas a quatro mãos... Bacana, né...
    Abraço

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  15. Oi Thiago...
    Vim conhecer seu espaço e te convidar para conhecer o meu, será um prazer receber sua visita.
    Bjs
    Borboleta
    voandocomborbolletas.blogspot.com

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  16. Oi Thiago...
    Voltei pra desejar um bom fim de semana pra vc!
    Com muita alegria, risadas...gargalhadas!!!
    Muita paz!
    Bjs
    borboleta
    www.voandocomborbolletas.blogspot.com

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  17. não fosse a menção ao "do charuto ali na estante" eu diria que esse papo rolou na porta de uma venda, os dois de cócoras, um falando e o outro só pitando e assentindo com a cabeça.

    mas venda com estante e o do charuto nela, vai ver até existe nos grandes sertões da imaginação popular, não?

    abraço

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  18. Uma viagem em volta ao mundo. E de repente saí do sertão ( pertinho de onde estou e ao mesmo tempo tão distante porque desprezado como essa gente da cidade finge que não existe a menos de 2 horas de automóvel) e fui passear pela Catalunha, dei uma rápida passada em Praga,outro pulinho em São Petersburgo, um tempinho em Cuba e reminiscências da Los Angeles diferente do glamour vendido pelo cinema mas revelado com muita safadeza pelo velho e outra passada por Niterói antes de desembarcar próximo ao sertão e levando para a sala de aula essa máxima verdade: "Professor é aquele que, de repente, aprende."

    E, de repente, o que aqui além de apetecer, ajuda a aprender. Pensando bem, não de repente. É sempre bom passar por aqui, cedo ou tarde: o importante é viajar por estas bandas!

    Um abraço, meu nobre!

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  19. Sem compromissos ou expectativas, temos um escritor... E, ao final da prosa, eis que de repente o leitor e o "doutor" viram-se endividados em uma inesperada decisiva "consulta". Sou grato, fazia tempo que não aprendelia um texto com tanto gosto. Estamos de alta?

    Um forte abraço. Desejo muita luz e paz com próspera vida liberta, longa e saudável para você e todos nós.

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  20. Thiago, você está brincando! Que texto... bom demais!

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