Tem gente de todas as gentes, caras e expressões. Assuntos pertinentes, pretendentes aos nossos bilhões; momentos de reflexões das salas de aula a uma mesa de bar, feitas ontem ou anteontem, há mais de década; desde as realidades insignificantes, às fantasias dos nossos semblantes.
Zelador
Seguidores
sábado, 6 de agosto de 2011
IRA
Acho que faltou o artigo definido ali no título. Falarei da ira, do pecado capital. Seria melhor A Ira, para não confundirmos com o Exército Republicano Irlandês ou com a banda IRA!, que também renderiam bons temas.
Desfiaram a ira contra mim. Não muitas vezes, mas em número considerável para que eu notasse o semblante de ódio, rancor e até de iminente vingança do ou da atendente de lanchonete quando eu recuso o refresco ou qualquer bebida que supostamente acompanharia meu salgado ou sanduíche. Lançam-me um tsc aspirado, de enfado e revolta contra as idiossincrasias da humanidade do hoje-em-dia atual.
Uma vez, não faz tanto tempo assim, após recusar o líquido, recebi uma chance de mudar minha ideia, de reconsiderar as coisas, pois a moça estava com o predicado da tolerância ativo.
- Não vai beber nada? Tá na promoção...
Recusei de maneira simpática, como não seria diferente, com sorriso; e ela, devolvendo o copo ao escorredor da pia, catapultava-me ares de deboche e lamento misericordioso.
Entretanto, a ocasião na qual me senti mais ameaçado foi numa movimentada padaria na Mariz e Barros, na Tijuca, não sei se na esquina com a Ibituruna ou Campos Sales. Muitos concursandos para o Instituto Rio Branco escolheram aquele estabelecimento.
Assomei-me ao balcão, olhei a vitrine e, antes de escolher, Maximilian Schell, saiu do Dossiê Odessa para me servir na Tijuca. Se não era ele não sei mais quem poderia ser. Esperava ele meu pedido:
- De que é este pastel de forno?
- Frango.
- Me vê um, por favor?
- Vai beber o quê?
- Nada.
Por trás daqueles óculos, entre aquelas rugas, atirou-se-me vetores munidos de uma ira jamais presenciada por mim. Durou alguns átimos até ele mudar a face: amarelou o sorriso surgido, buscou algumas gotas de pachorra, fingiu que não me ouviu e sugeriu:
- Laranja com acerola... abacaxi com hortelã... guaraná natural? Hein?
- Nada não, amigo, muito obrigado. Só o salgado mesmo.
- Um e cinquenta. Tem que pagá no caixa antes.
Quando recebi minha provisão, jogada em uma liteira de guardanapo ordinário e untoso, a cara do Maximilian Schell era de um sôfrego consentimento. Demonstrou a decepção diante da estupidez e ignorância, que ainda se abatem sobre a maioria dos seres humanos.
Teresópolis, 3 de agosto de 2011.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Parece até pecado comer algo sem beber. Nessas horas, seria bem apropriado, se não soasse tão mal-educado, um: "não sou obrigado(a)"! como dizem alguns amigos gays e agora até eu.
ResponderExcluirExperimenta pedir água torneiral da próxima vez...
ResponderExcluirVai continuar se arriscando? Mesmo porque, se o tal "líquido" é uma porqueira daquelas máquinas os salgados muito mais. E não vá me chamar de purista - salgadinho é uma delíci quando bem feito, né Mestre Thiago? Adorei o texto - comosempre, a IRA está muito bem delineada - beijo - Neia
ResponderExcluirEu vou fazer uns experimentos desses por ai, kkkk
ResponderExcluirAdorei a IRA, e dizem que comer bebendo não faz bem, vai ver, nem faz mesmo, aff!!!
Rs
Afinal de contas! por que não bebes sucos, refrigerantes,água?kkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirPor que não bebes hein?!
Obrigada pelo comentário no meu blog...amei o joão-de-barro...muito interssante a sua comparação.
Um abraço e fica com DEUS...sempre.
Coração que Pulsa, as razões são simples. às vezes não quero, às vezes beberei água no trabalho, às vezes não tenho dinheiro (mais comum), às vezes não há sabores e aparências que me agradam, às vezes há um luar onde se vende a bebida mais barata, fazendo da "promoção" uma falácia.
ResponderExcluirQuer afrontar mesmo?! Peça uma pizza e uma xícara com café com leite... vc vai ver o que é IRA!!!!!
ResponderExcluirAh, quanta gente delicada encontramos nessa vida...rs
ResponderExcluirEu tenho uma saudade danada daquele tempo em que o cliente tinha primazia e reverência no atendimento. Dava até para engolir algum líquido de tão bem tratado que a gente era. Abraços, Thiago. Paz e bem.
ResponderExcluirEu quase nunca tomo essas bebidas em restaurantes, na hora do almoço. Os garçons também ficam REVOLTADOS! Parecem não acreditar e ficam ali, de pé, ao lado da minha mesa, aguardando o meu pedido. Aff.
ResponderExcluirAdorei a crônica! <3
beijosssssss
Hoje em dia é comum esse tipo de atitude, parece até que o rentável é o liquido?!!!
ResponderExcluirAnônimo, fica-se essa impressão mesmo. " A gente ganha é na bebida", falaria um gerente ou proprietário.
ResponderExcluirA intolerância alheia está por toda parte.rsrs Eu sempre justifico em casos extremos que tenho gastrite e não posso beber enquanto como alguma coisa.
ResponderExcluirEu não sabia que poderia ser hostilizada assim por "falta de líquido" rs Teresópolis tá ficando braba, né? hehe Bjs.
ResponderExcluirOxe, na Bahia é "vai bebê o quê?" e se o cabra diz que não vai nada, o garção (!) não tá nem aí...aliás, como é mister em Salvador, o garção (!!) não tem nem aí sequer pro pedido do criente (!!!), ele só vai se retar ( se enfezar)mesmo quando deixam de lado os 10%.
ResponderExcluirMas eu conheci um cabra macho certa vez! Estávamos eu com outros colegas em um bar e todos pediram cerveja - do tempo que eu bebia isso. Aí o cabra vira pro garção e pergunta: "Eu quero um copo de leite, por favor". Tente imaginar aí a cara do pobre garçom ali, naquela mesa de bar. E tente imaginar a NOSSA CARA aguardando a reação do garçom. Foi um "Tem não" bem seco e já saindo para atender os pedidos.
Esse cabra é um exemplo! ( não sei de quê, mas é)
Abs, nobre Quintella!
Olá, estava sentindo falta de um post novo e resolvi passar por aqui, estás sem inspiração?
ResponderExcluirPode ser também falta de tempo.
Muito bom texto, é real, todos nós sabemos que é na bebida que se ganha mais, em restaurantes.
Abraços, já te sigo há muito tempo.
Mery.
O garçom não confia no poder de lubrificação da saliva em relação ao alimento e por isso oferece insistentemente o líquido para que o cliente não fique entalado!:P
ResponderExcluirAdorei o texto, Peste!
Xero!