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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

MELHOR ESTRANHO IMPOSSÍVEL

Foi estranho para os pais de Ricardo, quando o filho, após assistir Batman, em 1989, entrou no banheiro da suíte dos pais e começou a passar talco na cara e a se borrar de batom. A mãe foi ver o que ele fora fazer lá, pois não entendeu a pressa do filho, que nem deu um beijinho nela e nem falou sobre o filme.

- Ricardinho, meu filho, aconteceu alguma coisa?

E o garoto, trancado no banheiro, falou que estava tudo bem, só uma indisposição. Mas depois da demora, a mãe, preocupada, foi até o banheiro de seu quarto, devagar, e pelo reflexo do espelho viu que o filho se maquiava. Gelou, não soube o que fazer senão pensar no que houve de errado na criação dele para ele virar homossexual. Precipitadas conclusões.

Pouco tempo depois chega o pai, voltando do escritório. Ricardo Sérgio percebeu a chegada dele, viu que estava pronta sua máscara, correu pelo corredor até aparecer na sala e:

- Ráááá! Uhahaha!

O Coringa surgia naquele apartamento de luxo na nobre Ponta Verde da capital alagoana. Entre 17 e 18 anos, o estudante Ricardo se tornara o maior e mais doente fã de Jack Nicholson.

Isso preocupou os pais. Sempre fora um garoto com muitos problemas emocionais (não gostavam de falar que era um paciente psiquiátrico) e se envolvera com drogas muito cedo, embora estivesse, à época, mostrado certa recuperação após passagens em algumas clínicas e uma internação de 24 horas no Portugal Ramalho.

Seus “amigos” eram somente os fornecedores e compradores, aturava a galera do cursinho de vestibular e se afastara muito dos colegas e amigos do Colégio Santíssima Trindade, onde era o pivô do time de basquete. Era um cara muito inteligente, mas preguiçosos e, como percebemos, bem problemático.

Sem boas orientações, os pais acharam que aquilo era só uma brincadeira, uma extravagância. Quem gostou dessa nova fase de Ricardo foi o dono da vídeo locadora (que hoje não existe mais) perto da casa dele. Quase que o estabelecimento se especializou em filmes de Jack Nicholson. O dono conseguiu os antigos, que eram raros no mercado e sempre vinha com o lançamento. Muito embora tivesse que estudar muito para passar para uma faculdade, ainda pedia as coisas para o pai. Caso ele passasse, talvez recebesse seus desejos. Viu “Sem Destino” e quis ganhar uma moto. Viu “O Iluminado” e “Um Estranho no Ninho” e quis ser louco, louco mesmo. Chegou a se internar por conta própria no numa clínica psiquiátrica. Viu “O Último Magnata” em ser mesmo um magnata. A mãe, professora, até achou que ele começaria a se interessar por Literatura depois que disse que era um grande romance de Sinclair Lewis. Não era da vontade de Ricardo. Via os filmes que o cara da locadora lhe arrumava, às vezes com resultados de pesquisas que ele fazia.

Nós percebemos que não era uma relação saudável dele com seu ídolo. Quando trocou de time de basquete da NBA, de Chicago Bulls para Los Angeles Lakers, por causa de Jack, tentou voltar a jogar basquete. A disciplina lhe fez, finalmente, passar para Administração na Católica... de Recife, em 1994. Aí, sua vida foi o cabrobó.

Sempre morando sozinho, foi do Bairro de Damas, para Casa Amarela; morou em Piedade antes de se mudar para Boa Viagem, de frente para o mar, na esquina com a Carlos Pereira Falcão. Acompanhou a mudança do VHS para o DVD e também passou a comprar fitas e DVDs. A Internet melhorou suas pesquisas sobre as personagens de Jack.

Formou-se em 2000. Durante a faculdade era apenas engraçado ele ser um sujeito com Transtorno Obcessivo-Compulsivo a´pos ver “Melhor Impossível”; se preocupar com as invasões marcianas e achar que os serventes da faculdade e os zeladores eram marcianos; deixar a barba crescer, dizer que é lobisomem e querer namorar qualquer “galega” que visse pela frente. Tudo era engraçado e não teve problema algum em abrir uma empresa de empacotamento , congelamento e exportação de frutos do mar.

Qualquer psiquiatra, na primeira consulta, diria se tratar de um caso sério de esquizofrenia e, para o bom profissional, era um psicopata. Se ele se consultasse... Sua grana também vinha das vendas de coisas boas que todo mundo usa, continuando suas práticas em Maceió além da de painho. Mas a coisa ficou complicada depois que ele tentou roubar uma Harley Davidson após ver "Sem Destino" novamente. Em 2006 quis se internar de novo, mas lhe expulsaram do HPP, pois o caso dele, segundo concluíram, era de polícia. Nos cinemas estreava “Os Infiltrados”.
Tentou convencer o contínuo de sua empresa – que já caía pelas tabelas – a ficar observando os PMs para ver se eles não o perseguiam. Começou a ter problemas com impostos. Sua conta bancária não batia com seus gastos, com suas contas. Andava com problemas até que viu "Profissão: Repórter", que baixou da Internet. Recebera dele o aval para falsificar documentos.

Passou a abrir contas com identidades falsas, até que um dia, caminhando por seu bairro quando clique

11 comentários:

  1. eeeeeeeeeeeeeeeeee... ??????????????? Terminaaaa!

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  2. uahahahahaha Adorei a crônica/conto! Gosto muito quando você inventa um personagem a partir de um fato pitoresco... E por falar em colecionar fatos pitorescos, lembrei-me do filme "Um conto chinês"! =)
    Bjs

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  3. Argumento literário para ilustrar a tese da defesa dele. Absolvição ou medida de segurança. Muito bom!:)))

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  4. Thiago, suas versões são sempre melhores que qualquer realidade, ainda que inventada!
    Aplausos tipo cinema mudo. Só para que preste a atenção na euforia de cada bater de palmas!

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  5. ...Comentando mais um pouco aqui,do que já havia cogitado antes contigo,é engraçado mesmo;percebermos tais histórias ganhar páginas de noticiário,e o pior,ficar naquele dilema do algoz,será que ele sabia realmente quem era Jack?Em alguns casos ele explicita bem e fala, que não tinha uma vaga ideia de quem seria o dito cujo.Apenas era um rosto que passaria despercebido sob o olhar do funcionário,este acrescentaria uns carimbos nas folhas e pediria pra assinar conforme a assinatura da carteira.Rosto de pessoa mais séria,madura,Nicholson se sairia bem na característica de um aposentado bonzinho que mora em Copacabana.Convenceria realmente sua abertura de conta de banco.E eu continuo a optar sempre com a segunda,a mais pura cara de pau,e 'filha da putice aguda'ele queria era tirar onda mmesmo com os outros estelionatários de plantão,pra dizer que ele era o verdadeiro cara,a lenda escrita...Enganando BB e LTDA bancos...

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  6. Ah!Outra coisa,quando escrevo no teu blog,ele pede pra preencher o texto e provar que eu não sou robô...¬¬' Eu sou robô,meus circuitos eletrônicos de interface e condensadores cerâmicos funcionam muito bem,puro preconceito...

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    1. Bicho, fui apresentado ontem ao novo sistema aqui. Ele se infiltrou e decidiu por mim o que melhor devia fazer para postar. Sorte que me auxiliaram no facebook, consigo gerar links e por fotos. Assim fico feliz. Quanto ao Jack das Alagoas, o cara era bem um espertalho para catinho, mas não contava que o gerente gostava de bons filmes, um dos três que devem ter no bairro.

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  7. Eu poderia jurar que ao assistir "O Iluminado" o nosso Ricardinho iria querer um hotel. Ou trabalhar no ramo da hotelaria. Sabe, acho que seria legal pra ele. Era só não deixar um machado por perto...

    Genial, nobre Quintella! Genial!

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  8. Eu queria ter tido essa ideia... Contar essa história discorrendo sobre a filmografia de Jack Nicholson... Muito bom!!! Vc tinha razão, eu adorei!!! Quando vi essa reportagem nunca pensei nos desdobramentos dessa história e a sua ideia foi genial, perfeita e original...
    Mais uma dessas coisas que eu queria ter pensado tb... Adoro isso...

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  9. Eu ri demais quando vi a notícia estampada na página do Uol e mais ainda com teu texto. Concordo com a Aninha, também acho massa quando tu cria um personagem a partir de um fato. Ótimo conto, Peste!

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  10. Jaime, não tinha muito espaço para descrever toda a saga de Ricardinho até ser pego pela polícia, mas dá para imaginar muitas coisas. Letícia, essa ideia é um ótimo exercício, o Moacir Scliar tem um livro só de crônicas e contos baseados em notícias de jornais hehehe. Bom e quando eu descobrir como mudar a cor da fonte ou o fundo da caixa de resposta poderei responde-los individualmente.

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