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sábado, 8 de fevereiro de 2014

INTERDITO (folhas perdidas de Cervantes)



As oito patas, quatro de Rocinante, quatro de Ruço, estavam naturalmente desarmonicas. As do magro cavalo dava uma batida tlec... tlec... tlec, ao (com) passo que as do muar era tlec tlec tlec tlec. Um sol que somente o andaluz estava acostumado, apesar de esparasas nuvens na descida do horizonte.
- Senhor...

- Diga, Sancho filho, finalmente alguma manifestação para quebrarmos o silêncio desta toada quase infinda.

- Creio que vossa mercê não pode passar daqui.

- Como ousa a estabelecer minhas idas e vindas, meu afã pelas aventuras e desventuras em busca de algo que me é real: o achamento da mais formosa Dulcineia de Tomboso, a mais bela criatura que a terra pode testemunhar! Por acaso está trocando de cérebro com seu asno?

- Não se exaltes, ó dignitário amo, senhor de minhas razões de viver, o mais corajoso e sensato cavaleiro. O Cavaleiro da Triste Figura, o Cavaleiro dos Leões e da Literatura Mundial. Mas...

- Ora, Sancho amigo, ofereço minhas escusas por ter excedido os limites do bom colóquio. Compreenda, por favor, deve ser o sol. Continue, pois.

- Veja esta placa á sua direita. Parece que é sua exata caricatura, e a faixa vermelha sobre ela, significa que está à sua direita. E sei o porquê: um dos gigantes está mais para lá. embora pareça adormecido, é sempre um risco, não é, senhor?

Quixote, que já havia observado o moinho mas não a placa, solta uma baforada de riso, emblema um semblante de compaixão ante à ingenuidade de Sancho.

- Sancho Pança, meu fidelíssimo escudeiro, cuja sagacidade e dedicação ao dever jamais duvidei. Sancho meu amigo, tal símbolo em forma de placa é apenas o retrato do medo que se assolou em nossas terras após minhas desventuras e mentiras sobre minha determinação.  Aquilo não passa de um moinho, estático e por ora inativo, ao que meus olhos ofuscados podem observar. São fantasias de nossos inimigos que cismam em nos ludibriar. Sigamos! Adiante!

- Senhor, estes raios, este calor estão lhe trazendo uma razão preocupante.

- Shhhh, silêncio, vamos passando. Sem ruídos o moinho não perceberá nossa presença.

E Sancho, num alívio quanto à sanidade sabia de seu amo ter voltado, concorda em silêncio.

- Sim, insigne cavaleiro, caminhemos sem alardes no momento.

Petrópolis, 8 de fevereiro de 2014.

3 comentários:

  1. Fico imaginando o Dom Quixote e suas quixotisses para os tempos atuais...Como ele se comportaria tomando toco da Dulcineia e após dez chopes,dizer: Olha,não entendi nada...Com a ajuda de vocês enviei uns cinco SMS e whatsapp e nada...Cadê o velho papel e brasão na vela?Vamos lá,vou a ferro e fogo até a casa onde ela se abriga...Na estrada,a lei seca...
    -Alguém pode consultar alguma coisa aí referente a um bêbado com cavalo?
    O que consta o manual?-Sargento aqui não consta nada.-Que merda!Deixem eles passarem...Ao chegar no prédio,Dom Quixote arrebenta o porteiro eletrônico...-Que é isso Quixote,quer que a gente vá preso de qualquer jeito,né?Quixote escondido atrás da Jabuticabeira -Então, você não viram a maldição dessa caxinha?Prendeu a voz da Dulcineia ali,e ainda tentou me enganar xingando-me,só que a voz foi libertada...(E os causos imaginativos perduram na mente...)

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  2. A recomendação é "SEM ALARDES, NO MOMENTO" - ficarei no aguarde de uma nova orientação - com a sabedoria de D. Quixote não se brinca

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