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terça-feira, 27 de julho de 2010

CRIANDO POSTAGEM

Foi o que me pediram aqui, neste novo espaço: “Você ainda não criou nenhuma postagem. Crie uma agora!” Não sei fazer isso, então, escreverei e publicarei.

Topei com Sebastião Sintra, semblante preocupado. Entrava em sua casa.

- Ei Tião!
- Ê, menino! Indo ou vindo?
- Vindo de lá e indo para casa, mas cá estou para um cumprimento.
- Lecionou aula boa hoje?
- Assim, assim, Sr. Sintra. Me falaram muito mal do Park, irmão do Kim.
- Ih... é coisa antiga.

Senhor Sebastião Sintra, douto dos livros, das folhas e da vida, até onde ele sabe; com toda a humildade. Sabe que a coisa de Park e Kim não é boa faz tempo. Pediu-me para esperar um pouco, uma vez que demonstrei tempo para sua prosa, costume meu. Foi para dentro da casa, voltou, já sem seu paletó. Garrafa térmica, duas xícaras de louça esmaltada; café feito por Professora Ondina, de piano e canto, sua esposa.

- Vamos sentar aqui mesmo, não é todo dia que se tem uma lua bonita dessa.

Só assim percebi a lua. Deitei minha pasta em cima do muro e nos sentamos nos degraus; ele no mais de cima, eu no mais debaixo.

- Suba mais. Aí onde está fica longe para eu lhe servir o café e você para escutar com atenção. É caso, menino, é caso antigo, dos tempos que a família era unida. A família Minguk. Mas falaram do Park o quê?

Ritualmente puxou seu cigarro ativando sua atenção.

- Falaram que Park só não está morto porque sua arma de ataque é muito potente. Ele faz ouvido mouco para os vizinhos e para todos os outros; e ainda implica seriamente com o irmão, o Kim. Este já avisou que da próxima...
- Arma de ataque de um, ameaça de outro. Provocações.

Ele continuou centrado no café e no cigarro, sinal que queria o desenvolvimento da minha narrativa.

- Disseram que Park anda com más companhias, é do contra, sempre foi o garoto problema. Eu falei, calma com o pensar!, olha o lado dele. Mas insistiam, com raiva, que tinham logo que dar um jeito nele. E com isso o coitado é o Kim, homem de boa índole, dizem, aquele que sabe o que é decente para o ser humano, para a vida em comunidade; está chegando ao seu limite e já vai agir, reagir, pedindo ajuda dos vizinhos e de outros.
- É, menino, a coisa só podia dar nisso. Fiquei sabendo do que falaram desses dois e também dessas gentes com quem os dois andam; com quem, de certa forma todos nós andamos. O ódio, no entanto, está maior.
- Me falaram com tanta convicção que quase acreditei em tudo?
- Pior, isso é só ideia falada sem reflexão, nem ideia é, é opinião dos outros que entram na mente de gente que nem sabe o que aconteceu antes. E quem é que pergunta, quem é que duvida? Foi trauma forte. E agora, para tentarem curar, fica difícil... se é que “curar” é a palavra.
- Conte então, Tião!
- Bom pois, deixe-me ver se resumo: Kim e Park tinham pai e mãe e eram muito unidos, tanto os pais como os irmãos. Seus pais eram invejados e os vizinhos cresceram o olho e as espadas para a casa e as terrinhas deles. Por quê?, você me pergunta. Por ganância, que mais? A ganância faz tudo ser invejável. Dois de seus vizinhos - Seu Zungó do lado esquerdo e Seu Nirrom do lado direito, decidiram que o cantinho da família dos Minguk tinha que ser de um deles. Foi quando seus pais foram mortos. E Kim e Park, muito pequenos, perderam a referência. Ficaram os dois, sozinhos mas unidos, tentando resistência àquela primeira violação. Prevaleceu a força de Seu Nirrom; e Seu Zungó foi procurar polêmica e outras bandas. Tiveram que usar até a camisa que o vizinho invasor lhe obrigava, além de outras atrocidades; submissão econômica, física e emocional. Entende bem as atrocidades, não?
- Sim.
- Então, pois. A pobre-rica casa deles, já no suposto da dominação, não era mais tão interessante para Seu Nirrom. Os dois irmãos ali abandonados, vulneráveis, sofridos e humilhados, não tinham como oferecer qualquer revide. Seu Nirrom, incontrolável, quis mais do que lhe pudesse ser bastante. Foram além-mar para conquistar as ilhas e praias arrabaldes. Entrou em celeuma com Seu Ivan, vizinho de cima. Mais tempo de atitudes assim e Seu Nirrom começou a querer ir bem para o outro lado, mexer em terreno de Mr. Ussam.
- Quanto problema!
- Ainda tem mais, pode escutar: aí Park e Kim não eram mais meninos. E quando se cresce num ambiente desses, as ideias se divergem apesar do foco ser o mesmo: a volta da casa aos seus próprios domínios. Liberdade. Contudo, voltar ao que era, depois de tanto trauma, fica quase impossível. Com Seu Nirrom longe ficaria, na teoria, mas fácil deles recuperarem o que era seu.

Sebastião Sintra respirou forte. Pediu mais um café para ajudar no resto do assunto.

- O que era coisa de vizinhos tomou proporção larga, lá para outros cantos. O conflito era geral, pode até se dizer uma guerra. Seu Nirrom, para derrotar Mr. Ussam, foi receber apoio moral de Herr Hans e de Seu Giovanni. Mr. Ussam, por sua vez, também entrou nessa apoiado e apoiando Sir Jack e Messiê Jean, que também se ajuntaram ao Seu Ivan. Nesse quiprocó até Seu Zé Feb participou, ele mesmo! Depois a gente fala das razões disso tudo, vamos ficar com o problema dos Minguk, coitados.
- Pois é, minha cabeça demora para juntar as coisas.
- Moral da História, que é quase começo de outra: essa arma potente que Park tem hoje é filha mais forte da que Mr. Ussam usou contra Seu Nirrom. E no então decretou o fim daqueles combates, perdendo também Herr Hans e Seu Giovanni, por outras causas mais. Messiê Jean e Sir Jack estavam com suas casas destruídas, mas por empréstimo de Mr. Ussam, conseguiram um processo de reconstrução. E Seu Ivan, que ninguém dava muita trela, mas que estava também nesse time, desejou dominar outras localidades, como recompensa de seu esforço. Bom pois, em encontro na casa de Herr Hans, o grande perdedor, os derrotadores resolveram dividir os terrenos entre eles. Prevaleceram Ussam e Ivan, dois de ideologias contrárias, mas que dominavam as armas mais fortes. Foi aí que lembraram da casa dos Minguk, que não tinha mais o domínio do devastado Seu Nirrom, e traçaram uma divisão na casa dos irmãos Park e Kim.
- Outro trauma, outra separação!
- E eles ainda estavam sobre o impacto anterior. Só que a casa deles foi dividida entre Seu Ivan, a parte de cima para onde foi levado Park, e Mr. Ussam, a parte debaixo, tendo Kim como seu súdito. Separados, foram forçados a reinventar seus comportamentos. Depois ainda volta Seu Zangó para uma espécie de adoção de Park.

A lua ficou mais alta, Professora Ondina gritou lá de dentro, foi até a porta e me cumprimentou.

- Estamos terminando, meu bem, já vou entrar.

E Sebastião Sintra pôs-se a uma conclusão:

- Então, menino, Kim e Park começaram a se comportar à maneira de seus novos dominadores. Maneiras igualmente destruidoras. Como o sintoma, Park herdou a arma e ela está em suas mãos; Kim, que tem a possibilidade de usar essa arma por meio de Mr. Ussam. Alguns têm essa arma por aí, mas uns parecem que podem ter e outros parecem que não podem. Logo, você vê se o Park usará arma de ataque ou de defesa. E pensa sobre Kim, coitado, que nem se pode dizer que tem opinião própria. Isso tudo tende a explicar alguma coisa, porém não justifica. Brigam agora por culpa de quem? E eu já os vi por aí juntos, sem animosidade nenhuma, mas com semblantes tristes em risos frouxos.

Armazenei a conversa, terminei a xícara, peguei a pasta e subi a ladeira para casa.

- Muito obrigado Tião. O café estava ótimo!

27 de julho de 2010.

3 comentários:

  1. Primeiro: bom te ler de novo. Já sabemos que eu disse isso [agora pouco], mas achei que poderia dizer aqui também. Há quanto tempo te leio?! Cinco? Quatro anos? Não sei, mas a sensação de ter um espaço para visitar a qualquer hora é boa.

    Segundo: começar com um texto usando várias referências e que ao mesmo tempo nos dá a liberdade de ser uma versão peculiar sobre uma conversa qualquer, é o que admiro na sua literatura.

    Terceiro [que liga ao segundo]: a sua literatura nos permite ser verbo, quando tudo parece substantivo, de nome próprio e absoluto!

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  2. Então, achei aquela imagem do jogo de damas em um blog, sem nenhuma referência, costumo colocar ref.em pinturas, mas dessa vez não tive sucesso, "abel-manta-damas" somente isto.

    Bom ler-te, virei mais vezes, sou amiga da Let´s.Sempre recomendando seu blog para o mundo!!hehehe

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Trejeite