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domingo, 12 de setembro de 2010

FÓSSEIS RECENTES




Miraculosamente o ônibus Itaipava-Teresópolis conseguiu fazer seu trajeto no tempo médio. A BR-495, rodovia Philúvio Cerqueira Rodrigues, passa e passará por obras até 2012 e nela há vários pontos de “siga e pare”, nos quais se espera de 30 a 50 minutos. Naquela terça-feira, no entanto, coincidiu três placas SIGA surgirem assim que o ônibus chegou a elas; e apenas um passageiro entrou no meio da viagem, à altura da curva da ferradura.

Assim sendo, cheguei uma hora antes de meu compromisso, aula particular para meu primo. Ainda que a casa seja de família e que não haveria problema algum chegar bem adiantado, achei melhor aguardar na praça atrás da prefeitura, perto do local. Bebia água tônica, fumava e tentava escrever pontos para a aula de conversação em português para Signor Rinaldo, meu aluno italiano. Eis, pois, que passa minha prima, irmã da dona da casa e após meia dúzia de frases seguimos para a casa.

Lá chegando, estava meu aluno cavoucando, com afinco e com pá, as terras ao redor de um arbusto no jardim. Parei para falar com ele enquanto minha prima se dirigia para a casa.

- E aí, primo, beleza?

Ele se levantou, cumprimentou-me à moda hip hop ou gangsta’s stlye, e voltou ao seu labor. Ato contínuo, perguntei-lhe o que fazia.

- Tô procurando um peixe...

Tendo certeza da sanidade do garoto de 13 anos, sabia que faltavam ainda algumas informações a respeito daquela atividade. Todavia, resolvi fazer uma observação jocosa:

- Pô, cumpádi, aí não é o melhor lugar para se achar um peixe. Quem sabe num laguinho, ou até num aquário.

Seguramente ele havia feito uma experiência e colheria algum resultado naquele instante, mas quis levar a brincadeira adiante enquanto ele repunha a terra extraída.

- Continua aí, ainda não está na hora da aula. Mas preste atenção para o peixe não sair voando por aí.
(Uma comedinha ridícula não faz mal nessas horas)

Após alguns risos, perguntei o que realmente ele fazia.

- É que enterrei um peixe numa caixa de fósforo grande, primo. Aí quero ver os ossos dele.

- Boa, garoto. É para aula de Ciências?

- Não, é para mim mesmo, quero ver só. Vamos para aula logo.

- É claro, assim terminamos cedo.

Orgulho-me de pessoas que têm este espírito científico. O cara vai longe. E, terminada a aula, lá foi ele de novo, pazinha em punho, acocorado sob o arbusto, curtindo seu momento de arqueólogo.

- Há tempo ele está aí, primo?

- Ah, quase um ano!

- Semana que vem você mostra, ta?

- Tá bom.

8 comentários:

  1. Taí: ele poderia estar se drogando, pedindo um trocado no busão, jogando vídeo game, mas não, estava lá exercitando seu momento arqueólogo. Tem seu valor! Risos...

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  2. postagens com temáticas sempre tão diferentes, não? hehe obrigada por vsitar-me, fazia tempo que já não via teus comentários... abraços.

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  3. Que susto quando ele disse: Tô procurando um peixe!". Adorei isso :)

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  4. Eu antes de enterrar meus bichinhos, queria abri-los para ver o que tinha dentro. Mas o romantismo falava mais alto,enterrava-os sem maiores pretensões.kkkk

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  5. Vai longe mesmo: cavando deste jeito, espero que ele não tente dar uma de Júlio Verne, ao menos agora.

    Saudade de crianças e jovens mais curiosos. Hoje é tudo botão-liga-desliga-tá pronto. Quase 1 ano é algo que não entra na cabeça de muita gente hoje...rs

    Abs, cumpádi! Ainda tô devendo outras visitas, mas é assim mesmo essa vida insana de loser que eu levo, capisce? ( é assim que se escreve?)

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  6. Seus textos ótimos refletem sua alma de luminosa de criança. Lembrei-me de seu Zé com aquela voz de trocentos mil cigarros fumados companheiros de outras tantas cachaças: "_ Ô sô, só um maluco pode entender outro maluco, né não?".
    Paz e luz. Sou grato.

    P.s.: Tim Maia, para quem fiz algumas capas, certamente foi um ET e não sabia. Como todos nós temos sido, rsrsrsrs

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  7. Mas e ele achou o peixe? Agora fiquei curioso...

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