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domingo, 10 de outubro de 2010

REPIQUE


Aqui nos – aindabem – trópicos: solstícios e equinócios mudam muito o clima, que já é, coitado, maluco hoje-em-dia desde de uns tempos atrás. Complicam nosso vestir quando a chuva sem aviso substitui o sol que antes um pouco se fazia imponente. E eu, que não me agrado de guarda-chuva(s)? E que dirão os alérgicos dessas viradas de tempo?

Era a chuva que ameaçava voltar. Peguei um café em copo de plástico na Taberna Guaíra, que está em frente à porta de entrada do meu trabalho, e para essa porta voltei. Acendi um cigarro. Observei, estava ali para isso. Muitos celulares apressados, as pessoas pouco os ouviam devido as músicas dos carros eleitorais; funk melodies, sambas-enredo, chamadas de rádio anunciado o pretenso representante. Na esquina oposta apontou um homem que se destacou pelo tamanho, ou pela falta de tamanho.

O diminuto trajava casaco de moletom cinza, cobrindo a cabeça com o capuz que o casaco lhe oferecia. A mochila vermelha e a bermuda bege. Começa a futucar a lixeira de plástico laranja que estava atada ao poste. Concentrei-me ali.

Acha uma latinha de alumínio. Joga-a no chão a amassando com o pé; deixa-a ali retomando a busca. Um guarda-chuva é capturado por ele. Abre-o e percebe – ou percebo eu? – que o tecido preto está em boas condições, mas em sua maioria desprendido dos arames. Verifica as pontas e a flexibilidade das hastes. “Daria para consertar?”, penso eu por ele.

Não sei, pois ele começa a dobrar e redobrar incessantemente as hastes afim de, creio eu, no momento, arrancá-las. Será que, pergunto-me, ele faria uma adaptação no guarda-chuva, diminuindo o comprimento das hastes e, assim sendo, chegando ao diâmetro que protegesse seu reduzido corpo das vindouras chuvas? Viesse a chuva que ele não se umidecia.

As hastes, uma a uma, foram arrancadas e enfileiradas e dispostas do meio-fio ao asfalto. Descansavam ao lado da latinha. Avalia o guarda-chuva semi-desossado enquanto um jovem Justin Biba (não sei o sobrenome dele ainda) passa por ele tentando jogar um papel na lixeira. Permissão concedida. Abre o murcho guarda-chuva e o devolve à lixeira.

Na melhor atitude “serviço completo”, junta o feixe de hastes na mão, pega a latinha e, como se portasse tamborim e baqueta, percussionou três ou quatro repiques no alumínio e rumou para lá, zaticatá; para cá de volta, zaticatau , pá pá... Compunha sua batida. Foi batendo.

Teresópolis, 28 de setembro de 2010.

9 comentários:

  1. "Faz escuro, mas eu canto porque amanhã vai ser bom"
    Seria coisa de Deus ou do Diabo?!

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  2. Seria dos dois se conversando, Tati? O rasguembaixo num colóquio íntimo com o todopoderoso? (maísculas neles, se quiserem)

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  3. Pode ser em minúscula, afinal o tempo não é dos melhores e o "todopoderoso" faz escala 3X1.

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  4. Engraçado demais!! Diminuto??? Ahahahha!!!! E ele ainda alcançou o meio-fio, né??
    Abraços!!

    João Lenjob.

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  5. Hehehe. O diminuto deve ter alcançado o meio-fio, mas certamente balançou as pernas sentado nele. Rs! ótimo texto, Thiago! Faltou só o samba-enredo composto por Thi! Bjosss!

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  6. Ahhhhhhhhh! Que saudades de te ler assim! Solto, leve... Observador como sempre! Enquanto te leio, te imagino naquela porta a observar o "diminuto". É como se eu estivesse ali, do outro lado da rua, quem sabe sentada na Taberna Guaíra, te mirando só...
    Beijos

    Ana
    www.mineirasuai.wordpress.com

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  7. ...e continua até agora com o repique, porque como diz um professor colega aqui da musical Salvador, se o brasileiro tira um samba de uma caixa de fósforos não há limite para outros materiais.

    Até mesmo em uma latinha de cerveja e haste de guarda-chuva. E isso pelo "diminuto", termo que os ardorosos defensores do politicamente correto aprovariam...acho. rs

    Abs!

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  8. Gosto dessa coisa de batida Quintella,coisa de samba,da linha que espera mais humilde e sentimental...E vamos bater lata,rs

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  9. Conversando com o colega do post acima, tbm gosto dessa coisa de batuque, de samba, sempre tem algo assim no meu blog, nas minhas poesias... Obrigada pela visita lá ao meu escafandro, fazia tempo que não te via por lá. Bom final de semana pra vc.

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