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quinta-feira, 29 de julho de 2010

AÍ CONFUNDE O PESSOAL

Caso 1
Teresópolis-RJ, quase sete da noite, estrelas no céu. Sexta-feira.


A Praça Olímpica Luís de Camões, em Teresópolis, é ladeada pelas duas principais avenidas da cidade, a José Joaquim de Araújo Regadas e a Lúcio Meira. Entretanto, uma é chamada de Parque a outra de Reta. Na região serrana fluminense, avenida mesmo só a Rua do Imperador, em Petrópolis.

Em um bar da Avenida-Parque Regadas, as sabedorias pairavam entre o som do DVD de uma dupla sertaneja. Mesas na calçada, balcão lotado de garrafas, pratos, fregueses e cervejas; cachaças e traçados também. Um dos fregueses lança uma pergunta aos demais amigos e a quem quisesse ouvir:

- Ô, aê! Esse Luís de Camões, o da Praça, quantas medalhas ele ganhou para o Brasil?
- Ih, agora você me pegou. Qual era o esporte dele? – divaga, o primeiro.
- Acho que era natação, da época do Djan Madruga - busca na memória, o segundo.
- Rômulo Arantes, disso eu lembro - auxilia, o terceiro.

Um “isso!” uníssono de concordância. Mas a dúvida estava apenas no início de seu processo de esclarecimento, se é que se esclareceria.

- E o Guga (hic) também, ganhou medalha...

Desconsideraram essa afirmativa porque ela veio de um “eternamente bebum”, conhecido pela incoerente e desrespeitosa alcunha de Mumu.

- Ele não foi do judô? - Continuou um - Carregou até a bandeira do Brasil na abertura das Olimpíadas.
- Não, isso não tem nada a ver. Foi do atletismo, do revezamento, se estou bem lembrado.
- Agora vocês estão de brincadeira! Não vamos nos confundir.
- É, daqui a pouco o Feijó chega, da Previdência, e acaba com a dúvida. Aquele sabe das coisas. Tá quase na hora dele chegar.
- Tudo bem, mas se me permitem tenho uma dúvida maior ainda: Luis de Camões não era português, não?
- E para quê que a prefeitura iria homenagear um atleta português?
- Deixa de ser burro! Aqui tem a Casa de Portugal, que tem quadra de tênis, poliesportivo...

Silêncio.

- E... vai, continua.
- Ué! Vocês não sabem que o esporte...
- Olha o Feijó aí!
- Fala Feijó!

Feijó é daqueles que não precisa fazer seu pedido quando chega ao bar, a este, especificamente. Abriram-lhe espaço no balcão e já chegava meia dose de Catuaba, meia de Contini e meia da Mineira do barril. Tudo calculado, bem dosado matematicamente do jeito que se calcula os tributos dos contribuintes. Outro copo para a cerveja. O semblante do sábio.

- Feijó, é o seguinte, dois pontos - fez o sinal das aspas no ar - Luís de Camões ganhou alguma medalha para o Brasil nas Olimpíadas?
- E o Guga também!
- Cala a boca Mumu! - Outro uníssono.


Cuspiu o primeiro gole de seu rabo-de-galo. Gargalhada seguida de uma balançada negativa da cabeça. Olhou misericordioso para seus adoráveis amigos ignorantes, os quais, diante da cena, já se arrependiam de ter começado tal assunto, não perdoando a burrice deles próprios.

- Vocês beberam o quê? Estão alucinógenos? É por causa do nome da praça, né? Tudo bem. Isso foi um erro da prefeitura.
- Por quê? Explica pra gente!
- Veja bem, primeiro: Luís de Camões não era brasileiro.
- Não falei?
- Não falei? É português!
- Isso mesmo! Ele era português, alguma coisa vocês sabem. E, segundo, vírgula, não tem nada a ver com Olimpíadas. Ele foi da brilhante seleção portuguesa da Copa de 66, junto com Eusébio, o... Manuel, o... bom, vocês não vão saber.
- E o Guga também!

Veio um meio silêncio, alguns “Ahn, ah, agora sim”.

- Foi campeão?
- Não, só pelo Lusíadas Futebol Clube, o time que ele jogava na década de 60 e 70, do grande técnico Sebastiãozinho. Ganhou a liga nacional não me lembro bem em que ano...
- Já ouvi falar nesse Lusíadas! Tem até livro!
- Livro?
- É sim, tem até livro sobre esse time. Quando eu trabalhava na Casa de Portugal, o pessoal ficava lendo lá no salão, monte de gente reunida.
- Viu só, como não estou errado!
- Sempre certo, Feijó! Esse pessoal do futebol, quando termina a carreira vai logo lançando livro de escritos.
- Mas, Feijó, ele ainda está vivo?
- Claro que não, - respondeu o outro - onde já se viu praça, rua avenida com nome de vivo?
- Ah, eu conheço uma, não é bem rua, mas...

A discussão descambou para outro tema. Só Mumu que não mudou o assunto.

- E o Guga também!

28 de julho de 2010.

Nota do Zelador: Pesquisar sobre o grande escritor Luís de Camões.

terça-feira, 27 de julho de 2010

CRIANDO POSTAGEM

Foi o que me pediram aqui, neste novo espaço: “Você ainda não criou nenhuma postagem. Crie uma agora!” Não sei fazer isso, então, escreverei e publicarei.

Topei com Sebastião Sintra, semblante preocupado. Entrava em sua casa.

- Ei Tião!
- Ê, menino! Indo ou vindo?
- Vindo de lá e indo para casa, mas cá estou para um cumprimento.
- Lecionou aula boa hoje?
- Assim, assim, Sr. Sintra. Me falaram muito mal do Park, irmão do Kim.
- Ih... é coisa antiga.

Senhor Sebastião Sintra, douto dos livros, das folhas e da vida, até onde ele sabe; com toda a humildade. Sabe que a coisa de Park e Kim não é boa faz tempo. Pediu-me para esperar um pouco, uma vez que demonstrei tempo para sua prosa, costume meu. Foi para dentro da casa, voltou, já sem seu paletó. Garrafa térmica, duas xícaras de louça esmaltada; café feito por Professora Ondina, de piano e canto, sua esposa.

- Vamos sentar aqui mesmo, não é todo dia que se tem uma lua bonita dessa.

Só assim percebi a lua. Deitei minha pasta em cima do muro e nos sentamos nos degraus; ele no mais de cima, eu no mais debaixo.

- Suba mais. Aí onde está fica longe para eu lhe servir o café e você para escutar com atenção. É caso, menino, é caso antigo, dos tempos que a família era unida. A família Minguk. Mas falaram do Park o quê?

Ritualmente puxou seu cigarro ativando sua atenção.

- Falaram que Park só não está morto porque sua arma de ataque é muito potente. Ele faz ouvido mouco para os vizinhos e para todos os outros; e ainda implica seriamente com o irmão, o Kim. Este já avisou que da próxima...
- Arma de ataque de um, ameaça de outro. Provocações.

Ele continuou centrado no café e no cigarro, sinal que queria o desenvolvimento da minha narrativa.

- Disseram que Park anda com más companhias, é do contra, sempre foi o garoto problema. Eu falei, calma com o pensar!, olha o lado dele. Mas insistiam, com raiva, que tinham logo que dar um jeito nele. E com isso o coitado é o Kim, homem de boa índole, dizem, aquele que sabe o que é decente para o ser humano, para a vida em comunidade; está chegando ao seu limite e já vai agir, reagir, pedindo ajuda dos vizinhos e de outros.
- É, menino, a coisa só podia dar nisso. Fiquei sabendo do que falaram desses dois e também dessas gentes com quem os dois andam; com quem, de certa forma todos nós andamos. O ódio, no entanto, está maior.
- Me falaram com tanta convicção que quase acreditei em tudo?
- Pior, isso é só ideia falada sem reflexão, nem ideia é, é opinião dos outros que entram na mente de gente que nem sabe o que aconteceu antes. E quem é que pergunta, quem é que duvida? Foi trauma forte. E agora, para tentarem curar, fica difícil... se é que “curar” é a palavra.
- Conte então, Tião!
- Bom pois, deixe-me ver se resumo: Kim e Park tinham pai e mãe e eram muito unidos, tanto os pais como os irmãos. Seus pais eram invejados e os vizinhos cresceram o olho e as espadas para a casa e as terrinhas deles. Por quê?, você me pergunta. Por ganância, que mais? A ganância faz tudo ser invejável. Dois de seus vizinhos - Seu Zungó do lado esquerdo e Seu Nirrom do lado direito, decidiram que o cantinho da família dos Minguk tinha que ser de um deles. Foi quando seus pais foram mortos. E Kim e Park, muito pequenos, perderam a referência. Ficaram os dois, sozinhos mas unidos, tentando resistência àquela primeira violação. Prevaleceu a força de Seu Nirrom; e Seu Zungó foi procurar polêmica e outras bandas. Tiveram que usar até a camisa que o vizinho invasor lhe obrigava, além de outras atrocidades; submissão econômica, física e emocional. Entende bem as atrocidades, não?
- Sim.
- Então, pois. A pobre-rica casa deles, já no suposto da dominação, não era mais tão interessante para Seu Nirrom. Os dois irmãos ali abandonados, vulneráveis, sofridos e humilhados, não tinham como oferecer qualquer revide. Seu Nirrom, incontrolável, quis mais do que lhe pudesse ser bastante. Foram além-mar para conquistar as ilhas e praias arrabaldes. Entrou em celeuma com Seu Ivan, vizinho de cima. Mais tempo de atitudes assim e Seu Nirrom começou a querer ir bem para o outro lado, mexer em terreno de Mr. Ussam.
- Quanto problema!
- Ainda tem mais, pode escutar: aí Park e Kim não eram mais meninos. E quando se cresce num ambiente desses, as ideias se divergem apesar do foco ser o mesmo: a volta da casa aos seus próprios domínios. Liberdade. Contudo, voltar ao que era, depois de tanto trauma, fica quase impossível. Com Seu Nirrom longe ficaria, na teoria, mas fácil deles recuperarem o que era seu.

Sebastião Sintra respirou forte. Pediu mais um café para ajudar no resto do assunto.

- O que era coisa de vizinhos tomou proporção larga, lá para outros cantos. O conflito era geral, pode até se dizer uma guerra. Seu Nirrom, para derrotar Mr. Ussam, foi receber apoio moral de Herr Hans e de Seu Giovanni. Mr. Ussam, por sua vez, também entrou nessa apoiado e apoiando Sir Jack e Messiê Jean, que também se ajuntaram ao Seu Ivan. Nesse quiprocó até Seu Zé Feb participou, ele mesmo! Depois a gente fala das razões disso tudo, vamos ficar com o problema dos Minguk, coitados.
- Pois é, minha cabeça demora para juntar as coisas.
- Moral da História, que é quase começo de outra: essa arma potente que Park tem hoje é filha mais forte da que Mr. Ussam usou contra Seu Nirrom. E no então decretou o fim daqueles combates, perdendo também Herr Hans e Seu Giovanni, por outras causas mais. Messiê Jean e Sir Jack estavam com suas casas destruídas, mas por empréstimo de Mr. Ussam, conseguiram um processo de reconstrução. E Seu Ivan, que ninguém dava muita trela, mas que estava também nesse time, desejou dominar outras localidades, como recompensa de seu esforço. Bom pois, em encontro na casa de Herr Hans, o grande perdedor, os derrotadores resolveram dividir os terrenos entre eles. Prevaleceram Ussam e Ivan, dois de ideologias contrárias, mas que dominavam as armas mais fortes. Foi aí que lembraram da casa dos Minguk, que não tinha mais o domínio do devastado Seu Nirrom, e traçaram uma divisão na casa dos irmãos Park e Kim.
- Outro trauma, outra separação!
- E eles ainda estavam sobre o impacto anterior. Só que a casa deles foi dividida entre Seu Ivan, a parte de cima para onde foi levado Park, e Mr. Ussam, a parte debaixo, tendo Kim como seu súdito. Separados, foram forçados a reinventar seus comportamentos. Depois ainda volta Seu Zangó para uma espécie de adoção de Park.

A lua ficou mais alta, Professora Ondina gritou lá de dentro, foi até a porta e me cumprimentou.

- Estamos terminando, meu bem, já vou entrar.

E Sebastião Sintra pôs-se a uma conclusão:

- Então, menino, Kim e Park começaram a se comportar à maneira de seus novos dominadores. Maneiras igualmente destruidoras. Como o sintoma, Park herdou a arma e ela está em suas mãos; Kim, que tem a possibilidade de usar essa arma por meio de Mr. Ussam. Alguns têm essa arma por aí, mas uns parecem que podem ter e outros parecem que não podem. Logo, você vê se o Park usará arma de ataque ou de defesa. E pensa sobre Kim, coitado, que nem se pode dizer que tem opinião própria. Isso tudo tende a explicar alguma coisa, porém não justifica. Brigam agora por culpa de quem? E eu já os vi por aí juntos, sem animosidade nenhuma, mas com semblantes tristes em risos frouxos.

Armazenei a conversa, terminei a xícara, peguei a pasta e subi a ladeira para casa.

- Muito obrigado Tião. O café estava ótimo!

27 de julho de 2010.