
Tanta coisa preocupante acontecendo; tudo se resolvendo. Mas fica a tensão. Fechei o Luigi Pirandello que re-começava a ler, na busca de personagens, ao passo que os personagens buscavam facilmente o Luigi (com escritores famosos é bem mais fácil). “Vou abrir ‘A Palavra’, o Word, no caso; vai que escrevo algo”. Pensei até em beber uma Coca-Cola (Marca registrada) e comer duas torradas.
Uma passada rápida pelos poucos e-mails; não me aventurei nas leituras de sites e blogs. Comentei uma ou outra coisa no Facebook e nele mandei algumas frases de efeito. Falei com o pessoal, frivolidades, nada mais. Já estava meio-que desistindo, do quê, não sei; mas quase estava desistindo quando me veio a luz: “devo beber a Coca-Cola com gelo limão e cachaça?”
Jordan Dualibe, proprietário Café Cultural e Charutos, era o único presente na linha que poderia me ajudar. Expliquei-lhe a situação e ele consentiu: “Aguardente tem o seu valor”. Logo, estava autorizado.
Havia meio limão e dele fiz não a limonada, mas a cangibrina, bença-bençôe, meu filho. Preparado o goró, era questão de tempo para a coisa fluir... o texto. Bebi a primeira dose, fiz a segunda. Rabisquei três-quatro apontamentos, conectei-os com algumas ideias, veio o título, salvei e a luz acabou.
Uma luz viera e a outra se fora. Laptop/notebook acesso ainda, claro. Apagado. O vizinho ligou o gerador, coisa corriqueira, pois lá não ficam sem novela. Duas, três caneladas nas poltronas, peguei a lanterna ao lado da porta da sala, achei as velas e as acendi. Fui ao “lá fora”, breu geral. Por um segundo pensei em fazer as torradas na torradeira, ó pá.
Voltei para o “lá fora”, na companhia dos cachorros, que saíram de seus sofás, e da caneca de cangibrina. “Devia ter comido aquela torrada antes, e o queijo que comprei com tanto sacrifício lá no mercadinho...” Mas o céu era do Sertão, conforme esta crônica do Groo. Muita estrela. Muitas estrelas. Era um céu para se curtir.
Passou uma estrela cadente, fiz o pedido e não sei se ele foi com ela; acho que foi realizado, ou está sendo. Levei a espreguiçadeira para um lugar onde pudesse ver o máximo de firmamento. Passou outra, bem perto, meio verde. “Que estranho...”. Antes de me espreguiçar afastei os cachorros. Repousei a caneca de cangibrina, afastei os cachorros; cruzei os braços atrás da cabeça, à guisa de travesseiro, e afastei os cachorros de minha barriga. Um deles, apesar de refugado, voltou e ali ficou. Mais outra estrela.
Olhando para o rastro lácteo de estrelas, elas se duplicavam. São tantas e ainda se duplicam? Girando ainda mais do que a Terra. Outra estrela cadente, verde, rasante, pertinho. Não deu tempo de fazer o pedido. Ih! Outra! Quantas!
As estrelas cadentes estavam tão perto... e ainda faziam zigue-zagues no espaço. Até que uma foi parar no alpendre, ao lado da janela. Vagavam... pareciam me dizer: “Esta é sua última caneca, volta para o computador que a luz já vai voltar.”
Voltou a luz, apagou, voltou de novo. Já dentro de casa, tirei umas fotos do momento cachaça. Fiz as torradas, derreti queijos e me pus a escrever. Os cachorros voltaram para os sofás e poltronas da sala depois que perceberem que não haveria mais migalhas de comida.
Itaipava, 27 de janeiro de 2011.