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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

VOLTEMOS

Está difícil, mas vamos lá.

Moro em Teresópolis e passo as férias em Itaipava onde eu estava na noite do dia 11 de janeiro para o 12. Consegui uma cena maravilhosa para escrever e relatar aqui, dentro do estilo literário que procuro dispor para meus leitores e amigos. Como já havia publicado umas besteirinhas no dia anterior, 10, resolvi esperar mais uns dias, embora tivesse começado a escrever a crônica.

Era sobre a ridícula cena de como consegui ficar preso no banheiro. Pouco antes eu vi um filme na companhia de meu pai, comentamos algumas coisas e nos despedimos, boa noite. Antes de jogar as latinhas no lixo, deixei-as em cima da mesa e fui ao banheiro; encostei a porta porque a lingueta apresentava problemas. Ela faz parte do miolo ou máquina,(coisa que soube depois e ainda não sei o nome daquilo) na estrutura de uma fechadura (perdoe-me pelos cacófatos em forma de rima) e quebrou no momento em que eu, em atitude normal, encostei a porta.

Todas as tentativas de abrir e nada. O barulho naturalmente despertaria meus familiares; felizmente, nenhum deles havia dormido. A presença deles me deixou muito calmo e não me deixasse traumatizado por tal vexatória situação.

Steve McQueen seria minha inspiração. Nesse caso, não sua vida, mas suas personagens em Fugindo do Inferno,Papillon e Inferno na Torre. E não era o caso de se aludir ao Edmond Dantès, de O Conde de Monte Cristo, de Dumas, pois não havia nenhuma vingança em vista.

Recebi, do basculante, as ferramentas para poder desmontar as dobradiças: a única solução encontrada. Martelo e chave de fenda sem a parte do apoio, que faria as vezes de alavanca. As dobradiças estavam bem presas, obrigando-me a me inspirar em McGyver, durante todo o meu processo de liberdade. A falta de jeito não mandou lembranças, ela esta ali, comigo, me atrapalhando. Chovia muito.

Livre, percebendo a chuva, desconectei as tomadas dos aparelhos eletrônicos mais sensíveis, apesar de não haver raios e trovões. Escrevi, fiz palavras cruzadas, ameacei religar a televisão, mas impedido pela nova remessa de chuva, agora com raios-trovões. Dormi no sofá.

Pouco antes das seis, meu irmão acorda e vai se arrumar para ir ao trabalho. “ A que horas passa o ônibus mesmo?”. “ Vinte pra hora, creio”. Às sete ele voltou: “Enchente, a estrada está interditada, ninguém entra ninguém sai. Vou esperar dar umas oito horas e ligar para o trabalho para comunicar a situação.

Todos acordados. Vimos algumas reportagens, mas a energia acabou logo. Nossa primeira notícia foi dada pela moça que trabalha conosco, ligando para o telefone fixo (funcionava). Pensamos se tratar de mais uma enchente, infelizmente comum, na qual os mortos seriam “só” uns desditosos 16, 17; algumas casas invadidas pela água.

O pessoal que limpa a piscina conseguiu chegar aqui em casa, soubemos do trânsito e da situação. A coisa era muito mais séria.
Meus pais e meus irmãos saíram para os respectivos trabalhos. Voltaram no fim da tarde, “Thiago, você não imagina!”. A energia voltou, pudemos ver as imagens, imaginar. No dia seguinte, justamente para consertar a maçaneta da porta, eu vi as imagens. Assustadoras. Lá estive e agi, conforme o que poderia fazer.

A sorte, a boaventura, sei lá o quê, anda comigo. Recebemos milhares de telefonemas. Eu agradeço a todos, sem saber ainda como, a preocupação comigo e conosco.

Sem pieguice, apesar de meu lado racional sempre emperrar meu emotivo, fiquei abalado. O horror ao lado e eu, nós, bem.

Itaipava, 19 de janeiro de 2011.

12 comentários:

  1. Rapaz, não consigo nem imaginar direito o que está acontecendo aí. E nem quanto tempo vai ser preciso para a vida ser reconstruída.
    Abs

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  2. Thiago, imagino o que deve ser ficar no meio desse horror e vivê-lo de alguma forma. Quem está de longe, como eu, já sofre, imagino quem está no meio do turbilhão.

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  3. Thiago, realmente algumas vezes o véu espesso que nos cobre os olhos, nos salva! Ainda bem que nada de ruim aconteceu, pois vendo os jornais e vendo as inúmeras fotos por ai, a devastação foi incrível. A natureza é tão perfeita mas as vezes é implacável. Se continuaram, tem um motivo. Siga!

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  4. a vida, às vezes, emperra.

    Talvez seja hora de consertar as fechaduras e manter, daqui por diante, de preferência abertas as portas.

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  5. Thiago, já sabia que estavam bem....o que já uma boa notícia no meio de tanta notícia ruim.

    O desastre, as mortes, os dramas e tragédias pessoais...bem....esses tem seu sentido, muito embora não o conheçamos.

    Mas nada me tira da cabeça que eventos climáticos cada vez mais intensos constituem parte daquilo que nós mesmos criamos.

    Perder vidas para resolver isso é uma coisa....o pior é que esses vidas tenham sido em vão.

    Que bom que está bem....e que tenha conseguido sair do banheiro.

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  6. Chorik, Ana Paula, Robs, Escafrandista, Marcio e Daniel! Lá vou eu agradecer a todos vcs, os quais (hehhehe)- enchendo o saco de novo -, de certa forma sabiam do perrengue aqui. E agradeço ainda mais por saber que vcs me visitavam aqui e sempre estavam querendo saber o que ocorria na região.
    Vamos lá, vamos nos lendo, que é meu grande prazer! Muito obrigado! (de novo)

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  7. Thiago, por mais que a gente veja imagens e tente se colocar no lugar das pessoas é impossível imaginar as suas dores, o seu drama, o seu desespero. A gente tem que usar nessas horas é o máximo da capacidade solidária que tivermos. Como disse o Chico Buarque: " a dor da gente não sai no jornal." Abraços e vida longa. Paz e bem.

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  8. Na hora, enviei um sms em busca de um "oi está tudo bem"... embora não tenha tido resposta, dois dias depois vi que estava no facebook e que bom saber que apesar dos pesares, vc e sua família estava bem!

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  9. Nobre Quintella, primeiro parabéns pelas referências utilizadas para sair do banheiro. Em tal situação minha referência seria um tal Cro-magnom, mas isso não interessa aqui.

    E fiquei aliviado ao receber notícias de que está tudo bem com você. Hum...em nossas conversas falávamos justamente nessa questão do lado racional vs. emocional. Não tem como ser "racional" em momentos como aqueles que vimos tristemente pela TV. Não tem como ficar impassível. Não teria como um FPD de um político que se diz autoridade constituída "jogar a culpa" de tudo (veja!) somente e só na natureza ou em Deus. Lembro que você me descreveu um quadro terrível da situação. Nós, distantes e acompanhando tudo pela TV e internet, não temos a dimensão exata de que está ao lado do horror.

    Bem, é isso.

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  10. E se tudo fosse um filme seria até engraçado...
    Obrigada pelo relato, Thiago! Beijo grande!

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  11. Thiago

    voltei aqui para tentar exatamente entender a que se referia o teu comentário no InterTextual. Pensei que tivesse a ver com algo que tivesse dito nesta postagem, a última que li. Não consegui exatamente identificar.

    Perdoe, por favor, a minha estupidez. E esclareça depois se puder.

    Depois retorno para ler os textos mais recentes.

    Um abração.

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