Tem gente de todas as gentes, caras e expressões. Assuntos pertinentes, pretendentes aos nossos bilhões; momentos de reflexões das salas de aula a uma mesa de bar, feitas ontem ou anteontem, há mais de década; desde as realidades insignificantes, às fantasias dos nossos semblantes.
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segunda-feira, 2 de agosto de 2010
AÍ CONFUNDE O PESSOAL II
Caso 2
São Paulo-Capital, mano. Qualquer hora, qualquer dia, porque a cidade não pa(á)ra, tá ligado?
- Não, meu, desacredito! Vamos para lá agora, o Dezão vai ficar louco quando souber disso!
Expliquemos que isso tudo foi verdade verdadeira. Thalita bateu na porta do apê de seu primo, Patrick, para dizer que, finalmente, sim. Sim, ela faria uma tatuagem. O Dezão é o tatuador, artista, mais firmeza da Galeria do Rock, no Centro, perto do Anhangabaú, para quem não conhece. Para lá foram. Patrick ainda está incrédulo:
- Que isso Thá?, tipo, tudo que eu queria, prima! E vai ser daquele lôko lá que você falou, o que escrevia benzão e que o pessoal achava que ele era várias personalidades?
- Ele mesmo. Mas, tipo, não era bem assim que Fernando Pessoa era conhecido. Lembra que eu te falei dos heterônimos?
- Heterônimos... só! Achei que era de hormônio, você é farmacêutica, né, aí fiz a ligação, tá ligado?
- Depois te explico, o elevador chegou, vamos, já chamei o táxi.
- Tem o modelo aí, Thalita?
- Claro, está na bolsa. Do Pessoa e dos heterônimos.
A tatuagem seria de uma famosa caricatura d’O Poeta
Durante o percurso, Patrick cintilava a felicidade no semblante. Brilhava mais que tinta fluorescente de sua última tatuagem, até então a décima-oitava. Thalita jamais negara a possibilidade de ter uma tatuagem, só não sabia o por quê. Patrick não sabia se falava da tatuagem ou de Fernando Pessoa.
- Curti muito aquele churras que a gente conversou sobre altas coisas, inclusive sobre o Pessoa. Não entendi muito bem, mas foi super maneiro aquele poema dele sobre tomar porrada.
- Poema em linha reta. Quem nunca tomou porrada, né?
- Isso, muito da hora! Todo mundo já levou a sua.
Terminavam a Avenida do Estado; era só pegar a Senador Queiroz e já seguir pela 24 de maio. “Não eu pago”, “Imagina”, “Sem essa, vai”. Alguém pagou a corrida e seguiram para o estúdio do Dezão.
Dezão tem dois e dois de altura, 30 anos de tatuagem, e luta caratê e boxe tailandês: e é gente boa. Nada mais se sabe sobre ele; nem Patrick, seu amigo e freguês. Com a chegada de Patrick ele parou o serviço. Estava fazendo um grou no deltóide de um japonês, pediu-lhe para esperar e atendeu ao amigo. Thalita foi apresentada, ela mostrou o desenho e Dezão falou... para o japonês:
-Aí japa, espera lá fora que tenho um serviço de emergência.
Thalita mostrou a panturrilha - ali seria a tatuagem - e, depois de perguntar se ia doer, falou que queria, depois, mais outras tatuagens, mas que ela faria o desenho para ele.
- Calminha, Thalita, uma coisa de cada vez.
Dezão pegou nova pistola nova agulha, tinta preta. Olhou o desenho, olhou a cara de Thalita, olhou a panturrilha, passou os produtos químicos de asseio no local, pousou a caricatura de Fernando Pessoa no cavalete apropriado e começou. Patrick esfregava as mãos, falava pouco.
- É fácil o desenho, né Dezão?
- Filha, - semblante mais sério que Thalita já viu - toda a arte, é fácil quando se tem sentimento e amor. O amor pela arte que vai determinar se é fácil ou não.
Refletiram. Desenhava. Thalita falou um pouco com o primo.
- Então, Patrick, aí as outras figuras quero fazer aqui e aqui também.
- Só, três é um bom número.
Dezão olhou meio assim para aquele papo. Terminou o esboço. Melhor até que o original. Marcou outro dia para reforçar os contornos, o pagamento seria com a obra terminada. Pensava em chamar o japonês de volta.
Thalita, na despedida, começou a falar das futuras tatuagens. Seria assim, seria daquele jeito, poderia ser assim. Dezão, porém, achava se tratar do mesmo desenho. Não fez mal em perguntar:
- Ô moça, me desculpe, mas você gosta mesmo do Santos Dumont, hein! Tanta tatuagem de um cara só!
29 de julho de 2010.
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Me contaram que ela é conhecida como a "Menina do Fernando Pessoa". Porém os mais desavisados e os mais engraçadinhos, insistem no Santos Dumont. Fizeram até literatura com isso. Daí eu me pergunto: mas não são as pessoas de Pessoa que resultam em literatura?!
ResponderExcluirSó se sabe que o Santos Dumont dá mais ibope! Risos!
Ouvi a respeito dessa tal tatuagem de Santos Dummont... ou até que ela seria do próprio Poeta... fato é que tem que gostar muito de aviação para tatuar o tal... rs...
ResponderExcluirSerá que os Albertos se encontraram pela Europa?
ResponderExcluirMais vale ter um Fernando Pessoa na panturrilha que um Santos Dumont voando, heheh
ResponderExcluirahahah Vai ver ela gosta de voar...
ResponderExcluirgente... confundir Pessoa com Dummont? Fora as piadas q tem de ouvir depois.. lol
ResponderExcluirMuito bom o "causo" (pq em Minas a gente chama é de causo mesmo... rsrs)!
ResponderExcluirFiquei curiosa pra ver a imagem que o tatuador desenhou que ficou "melhor que a original"... Imagina se ele coloca um 14Bis ao fundo??? hahaha
bjs
Ana.
Hahahaha, coragemmmm, e se o tal "japonês" tbm fosse fonte de inspiração, e saísse com os olhos puxadinhos?
ResponderExcluirMorri!