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sábado, 7 de junho de 2014

UM NOME SÓ



Um nome. É, um nome pode motivar uma crônica, conto... romance e, claro, poesia. É assim mesmo. É assim que ouvi um nome desses que me motivou a reportar as próximas linhas. Nada demais, já lhes digo, mas nos dará um risinho besta.

Na farmácia, pediria uns paliativos para gripe, uns descongestionadores. Um de nome persa, Nardirim. Ao que o atendente, de pronto, opinou:

- Este é o melhor! Limpa tudo, igual bala halls preta.

Concordei com o "bala halls". Depois me ofereceu um daqueles que multidetonadores da gripe, que inibem o vírus de modo semelhante ao que uma caipirinha faria.

- Mas toma esse no máximo de seis em seis horas, porque ele dá uma baqueada, te deixa meio sonolento. - Agradeci. Eu gosto desses conselhos solícitos.

- Podes crer.

A farmácia estava vazia. Dali para ir ao caixa, pagar e ir embora não duraria mais de um minuto. Bastava esperar aquele senhor tirar os cotovelos do balcão, eu ser o próximo, pagar e sair. Mas sair dali não era o objetivo imediato do senhor, daquele senhor, pois, até se explica, a farmacêutica estava no caixa. Linda farmacêutica.

Olhos amendoados encimados por talhada sobrancelhas; de um cabelo liso querendo se ondular, de um ondeado querendo se alisar; denso, de um negro brilhante. Nariz devidamente proporcional à largura e comprimento dos lábios, dos quais o pouco espaço entre o ápice do lábio superior com a base das narinas dava um charme inenarrável. Os cabelos, se soltos, atingiriam a vértebra lombar 2. A camisa parecia um número menor do que seus seios podiam suportar, mas se alargavam no decorrer de seu corpo. A pele, daquela... daquela cor.

Agora sabemos porque aquele senhor não se desgrudava do balcão. E ele proseava. Peguei o assunto no meio:

- Morava ali, depois da estação, que ia para Vassouras. – disse ele.

A moça (sei o nome dela, pois está escrito no jaleco, mas não vou revelar aqui), não sabia muito da estação. Mas se a descrevi, devo descrever o senhor. O que tinha de cabelo rodeava sua cabeça. A paz saía de seus olhos, de seu rosto bem barbeado. Batia no meu ombro, trajava calça e camisa sociais, de cores discretas. Uma boina lhe dava uma peculiaridade. Mas percebi isso tudo somente quando ele se afastou do balcão, sem, todavia, terminar o assunto.

- Então, ali na estação que eu trabalhava, conhecia muita gente. Gente da época de seu pai.  - O “ali”, era Miguel Pereira, cidade das rosas, estado do Rio. Ao que a moça comenta:

- Eu gosto de lá, mas é uma pena porque não tem muita opção de emprego. Aí eu tenho que trabalhar aqui.

Afastou-se do balcão, tirou a boina. Era para eu falar que estava comprando isso e aquilo, era minha vez. Entretanto, percebi que eu esperava a continuação da conversa. Instalou-se um silêncio e inércia. Ameacei dizer o que pedira, mas o senhor lançava sua cartada:

- Você deve conhecer o Venceslau.
[“Venceslau”, ali percebi que o nome daria uma boa crônica]

Pela cara dela era óbvio que não conhecia o Venceslau, talvez o Brás, da República Velha, então nova na época. Só que a cara dela era de total desconhecimento, ao que a resposta foi, naturalmente:

- Não, não conheço não – e se virou para mim – um Multigripe e um Nasradim, só isso?

Demorei a perceber, mas respondi: “sim, só isso”, e estiquei o braço com o dinheiro. Mas o senhor ainda tinha alguns fatores para memorar a moça.

- Venceslau, não lembra? Bebia uma cachaça. Na verdade ele comia cachaça, porque quando bebia estava tudo bem, mas quando comia...

Eu entendi, creio. Mas a moça ficou interrogativa.

- Mais alguma coisa?

-Não, obrigado.

E que saberemos do Venceslau? Ou Wenceslau, com "W"?

Petrópolis, 7 de junho de 2014





6 comentários:

  1. Nota um: farmacêuticas são sempre inspiradoras! [hahahahahahahaha]
    Nota dois: "o que qualquer caipirinha faria"... impagável!
    Nota três: Já estava com saudades das suas crônicas. Sempre boas demais da conta!

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  2. "Olhos amendoados encimados por talhada sobrancelhas; de um cabelo liso querendo se ondular, de um ondeado querendo se alisar; denso, de um negro brilhante. Nariz devidamente proporcional à largura e comprimento dos lábios, dos quais o pouco espaço entre o ápice do lábio superior com a base das narinas dava um charme inenarrável. Os cabelos, se soltos, atingiriam a vértebra lombar 2. A camisa parecia um número menor do que seus seios podiam suportar, mas se alargavam no decorrer de seu corpo. A pele, daquela... daquela cor."

    Maravilha... Cada vez mais seu fã... Pode crer... Vai virar (já virou) cachaça.

    Toda PAZ \o/ toda LUZ!

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  3. Aldo! Há quanto tempo não nos lemos!! Que bom que ainda passa por aqui! Em breve visitarei os blogs amigos! Abraços!!

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    1. Bacana! Vc É, na minha lista de blogues, e, não sai também da minha lista do coração; eu é que ando enfiado na roça. Agora, sem sair da roça, estou de volta ao transcendente virtual concreto mas, sou um impressionista romântico contumaz, antigo viajador do infinito, isso não quer dizer que deixe de ser seu fã... \o/ um aldíssimo abraço.

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  4. Vou mostrar teu texto pro meu pai porque sei que ele vai adorar o trecho "[...]que inibem o vírus de modo semelhante ao que uma caipirinha faria." :-P

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